No final de 2006, quando cheguei a Belo Horizonte, trouxe na bagagem o ímpeto dos meus vinte e poucos anos e uma vontade imensa de auxiliar empresas a solucionarem problemas com softwares e processos. Nos anos subsequentes, empreendi diversas iniciativas em parceria com empresas locais e, embora bem-sucedido, ainda sentia uma inquietação latente, pois percebia que o modelo vigente de venda de softwares não sustentaria um futuro promissor.

Para ilustrar, recordo-me da venda de um software da IBM em 2007: após finalizar a transação, o cliente precisava aguardar, no mínimo, duas semanas de trabalho de técnicos altamente especializados para, enfim, visualizar a tela do sistema adquirido. Durante essa espera, enfrentávamos inúmeros desafios, como incompatibilidades com o tipo de servidor, o sistema operacional, a versão do banco de dados, entre outras variáveis que poderiam comprometer o sucesso da instalação.

Intuía, no fundo, que esse modelo estava obsolescente. Vislumbrava um futuro no qual os softwares seriam tão amigáveis quanto o Google, o Orkut – sim, a principal rede social no Brasil na época – ou o MSN, embora as empresas ainda não compartilhassem dessa visão.

Tudo se clarificou em junho de 2008, durante uma feira de negócios onde conheci a Zoho e outras soluções baseadas na nuvem. Constatei que, em outros países, o futuro já despontava e as companhias encaravam as soluções em nuvem como um caminho sem volta.

Naquele período, estava imerso na leitura do livro "Wikinomics", que delineava um futuro utópico, porém já em gestação, de um mundo pautado na colaboração massiva e global. Pioneiros de uma economia emergente criavam modelos de negócios não convencionais, apresentando empresas e soluções como Second Life, Linux, YouTube, Wikipedia, Flickr, MySpace e tantos outros, prenunciando que, com a consolidação do "cloud computing", o mundo jamais seria o mesmo.

O livro descrevia tecnologias incipientes, prestes a influenciar diversos setores como os bancos, indústria, varejo, música, cinema, incluindo aquele em que eu cogitava empreender: o de tecnologia. Diante de tantas transformações iminentes, enfrentei um dilema angustiante: deveria aproveitar as oportunidades ainda presentes na indústria da tecnologia, promovendo uma transição gradual, ou deveria me antecipar, estudando e buscando meu lugar no futuro?

Relembrei então da minha constante inquietude e compreendi que ela derivava do fato de que o caminho que almejava trilhar ainda não estava pavimentado; era, de fato, uma trilha por abrir, um "mato" a desbravar, e cabia a mim arregaçar as mangas para iniciar esse trabalho.

E assim o fiz. Ainda em 2008, estabeleci parcerias com fornecedores de soluções promissoras, incluindo a Zoho, e dediquei-me ao estudo intensivo. Foram longas jornadas – 14, 16 e até 18 horas diárias, por vários meses. Desenvolvi um site, elaborei metodologias, testei conceitos, realizei apresentações piloto e, em 10 de janeiro de 2009, registrei o primeiro CNPJ da Wiki Consultoria, em um território ainda escuro, frio e desafiador. Aceitei percorrer uma jornada que, hoje, completa 15 anos. O restante tornou-se história na vida de centenas de pessoas que contratamos, atendemos e ajudamos ao longo desse tempo.