Os Labirintos de Preços no Mundo do Software: Desvendando as Armadilhas dos Modelos de Precificação

Autor:
Silvio César
Publicado em:
22/11/2023

Em um mercado inundado por inovações tecnológicas, as empresas fabricantes de software têm o desafio de se destacar em meio à concorrência feroz. Para maximizar a rentabilidade e garantir a adesão do cliente, muitas dessas empresas desenvolveram modelos de precificação complexos e, por vezes, repletos de armadilhas. Vamos explorar como esses modelos podem acabar por custar mais às empresas consumidoras do que o inicialmente previsto.

Entrada simplificada e planos com limites aparentemente generosos

Uma tática comum utilizada é oferecer planos com limites que parecem generosos à primeira vista. Por exemplo, um software de gestão pode oferecer um plano com capacidade para 10.000 transações por mês. Para uma pequena empresa, isso soa mais do que suficiente. Entretanto, esses limites muitas vezes incluem não apenas as transações bem-sucedidas, mas também as tentativas falhas e outras interações menos óbvias, como o número de registros, algumas features óbvias para a boa experiência do software consumindo rapidamente o limite estabelecido e forçando um upgrade para um plano mais caro.

Deixa eu exemplificar melhor:
Fabricantes de software como Google e Microsoft possuem uma ampla gama de produtos e serviços, cada um com seus próprios modelos de precificação que podem conter limites e restrições que potencialmente levam a custos adicionais para as empresas. Vamos explorar alguns exemplos desses limites:

1 - Google Workspace (anteriormente G Suite)

- Limite de Armazenamento: Cada plano do Google Workspace tem um limite de armazenamento por usuário. Por exemplo, o plano Business Starter  oferece 30 GB por usuário por R$ 28,00, mas se sua empresa crescer e precisar de mais espaço, você terá que adotar o plano Standard pagando 250% a mais;

- Número de Usuários: Há também planos que possuem um limite no número de usuários. Por exemplo, o plano Business Starter é limitado a 300 usuários. Para além disso, é necessário migrar para um plano superior sem esse limite, mas com um custo maior.

- Funcionalidades de Videoconferência: No plano Starter as reuniões não podem ser gravadas, que teoricamente é um recurso básico, mas se você precisar de gravação das reuniões aí você terá que pagar apenas 2,5x a mais por usuário, ainda que poucos precisem gravar reuniões para ter acesso a esse recurso;

2 - Microsoft 365 (anteriormente Office 365)

Licenças por Usuário: Semelhante ao Google Workspace, o Microsoft 365 tem planos que oferecem diferentes níveis de funcionalidades com base em licenças por usuário. Por exemplo, o Microsoft 365 Business Basic tem limitações em relação às versões desktop dos aplicativos do Office, que não estão incluídas, ao contrário de planos mais caros.

Armazenamento no OneDrive: O limite de armazenamento no OneDrive é um exemplo típico. Planos de nível de entrada oferecem menos armazenamento, e se uma empresa exceder esse limite, terá que pagar mais, seja por usuário adicional ou por um plano empresarial que ofereça mais armazenamento.

Funcionalidades Avançadas de Segurança e Conformidade: Certas funcionalidades avançadas de segurança e conformidade estão disponíveis apenas em planos mais caros, o que pode forçar as empresas a atualizar se elas precisarem dessas funcionalidades para cumprir com regulamentos ou para melhorar a segurança.

Para todas essas situações, é vital que as empresas compreendam completamente o que está incluído em cada plano e considerem não apenas as necessidades atuais, mas também o crescimento e a expansão futura. Isso inclui o potencial aumento na quantidade de dados que geram, o número de usuários que terão e as funcionalidades de que precisarão. Planejar com antecedência e estar ciente das limitações pode ajudar a evitar armadilhas de custos inesperados.

Pacotes Inflexíveis e a Ilusão de Economia de Escala

Pacotes inflexíveis são outra área onde as empresas podem ser apanhadas desprevenidas. Os fornecedores de software costumam agrupar funcionalidades, forçando as empresas a adquirir e pagar por um pacote de recursos, dos quais apenas uma fração é relevante para as suas necessidades. A promessa de economia de escala raramente se materializa, pois pagar por funcionalidades desnecessárias pode rapidamente inflar os custos.

Restrições de Usuários e Custos Adicionais Ocultos

As restrições no número de usuários são outra armadilha comum. Os planos podem começar com um preço atraente para um pequeno número de usuários, mas à medida que a empresa cresce e precisa adicionar mais contas, o custo por usuário adicional pode ser desproporcionalmente alto. Ademais, funcionalidades essenciais podem estar disponíveis apenas em planos superiores, obrigando a empresa a pagar por upgrades dispendiosos.

Complexidades do Licenciamento e Complacência com a Inércia

A complexidade dos acordos de licenciamento também não deve ser subestimada. Com termos e condições densos e técnicos, as empresas podem inadvertidamente violar os termos do licenciamento, resultando em penalidades ou a necessidade de adquirir mais licenças. Além disso, uma vez que uma empresa se compromete com um determinado software, mudar de sistema envolve custos e interrupções significativas, o que pode levar a uma complacência custosa com os aumentos de preços ou com a continuação de um serviço insatisfatório.

Conclusão

A realidade é que muitas empresas fabricantes de software utilizam essas estratégias de precificação para criar armadilhas financeiras. O segredo para evitar essas armadilhas está na diligência e na negociação. As empresas consumidoras devem:

- Avaliar cuidadosamente os limites dos planos e entender todos os termos.

- Escolher pacotes de software baseados na necessidade real, evitando o excesso de funcionalidades não utilizadas.

- Entender claramente a estrutura de custos para adição de usuários e crescimento futuro.

- Ler e negociar termos de licenciamento com a ajuda de especialistas legais em TI.

Por fim, é fundamental manter a flexibilidade e a prontidão para mudar de fornecedor se um modelo de precificação se tornar proibitivo, garantindo assim que a empresa mantenha controle sobre seus gastos com software e não caia nas armadilhas habilmente disfarçadas dos modelos de precificação.

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